Era dezembro de 2014, mais precisamente dia 17, quando o mundo foi surpreendido com um anúncio simultâneo de Cuba e EUA avisando sobre o início de um processo de reaproximação dos países. Foram 54 anos de espera, mais de meio século de incertezas, repressão e inúmeros obstáculos. Mas o anúncio que poderia ser um prelúdio a novos tempos, mostrou-se praticamente ineficaz até agora.
Sim, houve melhorias. Foram feitos acordos significativos sobre temas como o combate ao narcotráfico e ao tráfico de pessoas, proteção de ecossistemas marinhos e reabertura do correio postal. Até empresas de grande porte, como Netflix e Airbnb, conseguiram vantagens e expandiram seus negócios na ilha, mas nada disso está minimamente perto do que os cubanos vislumbraram ao serem informados sobre o anúncio de reaproximação.
Quando Raul Castro e Barak Obama iniciaram um diálogo, o que esperava-se era que a ilha voltasse muito em breve a ser economicamente ativa. Chegariam produtos diversos, informações, conteúdo e, principalmente, liberdade. 2015 prometia ser o ano do boom econômico em Cuba, mas isso não passou de uma simples ilusão.
O viajante Guilherme Madalosso Kerr esteve no país no final de abril de 2015 e durante 10 dias visitou “um lugar parado no tempo”. “Desde os carros às construções, tudo nos faz voltar décadas atrás”, afirma. E se depender dos EUA, isso não deverá mudar por enquanto.
Tudo certo, nada resolvido
O problema gira em torno do embargo econômico imposto à Cuba em 1962, durante a Guerra Fria. Embora Obama tenha tomado medidas executivas para flexibilizar as viagens e algumas transações comerciais, sua suspensão completa depende do Congresso dos EUA, controlado hoje pelos republicanos, que se opõe às iniciativas do presidente.
De acordo com o governo cubano, o cerco comercial e financeiro imposto por Washington em 1962 é o principal obstáculo para a completa normatização dos vínculos, mas não é o único. Existe ainda outro ponto delicado e que deverá gerar muitas discussões daqui para frente: Guantânamo. Cuba exige a devolução do território que virou base militar e símbolo da repressão praticada pelos EUA. Se isso é realmente viável, só o tempo dirá.